sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Antes do início de todas as coisas

Mermão pra vocês entenderem melhor toda essa história que tá por vir, vou ter que voltar alguns anos antes do "início de todas as coisas", quando eu ainda sonhava em ser um jogador de Futebol.

Aos meus, exatamente, 14 anos de idade, no auge do meu mais elevado grau de vontade de seguir esse sonho, em um certo dia, não lembro o dia exato, mas era uma quinta da caranguejada, já era noite quando toda minha família saiu pra uma caranguejada, eu tinha passado o dia pintando as grades da casa que eu morava com dois amigos meu de infância, um chamado Michel Moura Palmeira, vulgo "joga nada" e o outro não to lembrando agora, mas acho que era o Leleo "boca podi" (hoje ele já ta com a boca cheirosa). Então, nessa noite, enquanto minha família tinha saído, fiquei na calçada conversando com mais dois amigos, um craque chamado Paulo Wesley (o TAM, esse eu era fã), e o Marcelo (esse não jogava bola). Conversamos um tempo e eles foram embora, eu entrei em casa e fique assistindo TV, comecei a me sentir mal mesmo sem ta fazendo nenhum esforço, meu coração começou a bater bem acelerado, tentei ficar calmo e tentei agir como se aquilo fosse passar logo sem eu precisar me preocupar.

Passadas algumas horas, minha mãe (Ceiça) e meu irmão Assis, vulgo Urso, chegaram, ela me olhou e já notou na mesma hora que eu não estava bem, perguntou o que eu estava sentindo e eu disse que tava tudo bem, mas era nítido não estava nada bem. Ela se aproximou e pegou no meu peito, perguntou o que eu tinha feito, respondi que nada (acho que essas foram todas as minhas respostas). Rápido ela chamou meu irmão e falou que tinha que me levar pro hospital, eu me recusei, corri pra dentro do quarto e tranquei a porta (coisa da idade). Meu irmão (pouca força) quebrou a fechadura e me pegou, fomos pro hospital: eu, minha mãe, minha irmã Regina (que graças a Deus não gostava de comer chinelo) e meu cunhado Luiz Carlos (o Pitó).

Chegando no hospital bati um eletrocardiograma e esperei pouco tempo, até porque já era tarde da noite, quando o médico saiu da sala com o exame falou da seguinte forma: "quem é Régis?", minha mãe quem respondeu: "ta aqui", logo em seguida ele completou: "tem que entrar na UTI agora, urgente". Lembro que faltavam três dias para o natal e ali iniciava um desespero pra mim e minha família, eu internado de uma hora pra outra em uma UTI, com um grande risco de perder a vida, lá eu fiquei dois dias tomando remédios, injeções. Logo quando fui internado lembro de uma mulher me perguntando se eu tinha usado droga (provavelmente era uma enfermeira), negava sempre, mas ela sempre insistia, achando que eu estava com receio de falar, hora ou outra ela aparecia com a mesma pergunta (eu não estava sendo convincente, eu acho, ser nego com um cabelo black power com uma arritmia cardíaca do nada não tava fácil).

Acervo pessoal. Eu, Romário (à esquerda) e meu primo Samuel (no centro)

Outra lembrança que tenho é que na minha frente era uma parede de vidro, por onde eu via todo mundo que já tinha chegado da minha família chorando, me vendo naquela situação todo cheio de aparelho, com apenas 14 anos, eu sem ter a metade da noção do risco que eu tava passando naquele primeiro momento. Após o segundo dia recebi alta, sai da sala pra ir ao banheiro com meu Pai, quando levanto da cadeira pra urinar, desmaiei nos braços dele, voltei pra UTI de maca e ainda chegaram a usar aquele aparelho chamado desfibrilador. Retornei, voltei ao normal, fiquei em observação, meu quadro "estabilizou" e pude passar o natal em casa.

Dentro de alguns dias eu iria completar 15 anos e no meu aniversário iam rolar várias cervejas, com certeza meus amigos dessa época que lerem vão lembrar (só pra avisar que comecei a beber bem cedo, não que seja um vantagem), no tempo foi foda porque não bebi nada, mas por outro lado foi irado, porque mesmo assim consegui reunir todos os meus amigos.

Iniciando o ano, tive minha primeira consulta com um cardiologista que jamais vou esquecer o nome desse fresco: Snard, eu uma "criança" na época, quando ele acabou de ver meus exames me falou da seguinte forma enquanto já escrevia o remédio que eu ia passar a tomar e os horários: "você pode esquecer qualquer tipo de atividade aeróbica, esqueça futebol e não pare nunca mais de tomar esse remédio se você não quiser morrer". Foi muito doido o que passou na minha cabeça nesse momento, por conta que o que eu mais fazia na época era jogar futebol e, por sinal, eu era bolsista de uma escola por conta do futebol.

Chegando em casa falei pra minha mãe assim: "mãe se for pra me levar de novo praquele médico, pode me deixar morrer em casa". Eu chorava pra caralho e minha mãe (a melhor mãe de todos os tempos da galaxia), logo fez um esforço e, em seguida, me levou para um tratamento melhor em um hospital particular, onde passei a fazer exames de rotina quase toda semana. Lembro que ia pros exames: eu, minha mãe e meu amigo Romário, vulgo Lula Molusco (esse era parceiro, segurava até meu caderno pra eu brigar com o Foca na saída do colégio, mas essa é outra historia), foi muito foda essa fase. Durante um ano fiquei tomando medicação três vezes ao dia, um remédio chamado Captopril, tomava às 6h e às 14 horas (por sinal essa hora eu estava em aula, era a Roberta Castelo Branco, minha amiga de sala, que lembrava eu de tomar lá no Machado de Assis) e às 22 horas.

Foram passando os meses e logo chegaram as tradicionais festas juninas e lembro um dia que eu, o Michel e o Leleo combinamos de ir pro São João de Maracanaú, pedi minha mãe autorização e ao meu cunhado pra ir deixar a gente lá (esse tempo as festas juninas eram  menos pior do que nos dias atuais). Minha mãe deixou confiando neles, pedindo para que "cuidassem de mim" (meus Jesus!). Chegando lá lembrei e comentei com meus amigos sobre uma reportagem que eu tinha visto na TV, que dizia que vinho era bom pro coração. Meu fi fui logo em uma bodega lá e comprei dois SÃO BRAZ óia! Era um na mão e o outro no bolso, resultado? Deu ruim. Fiquei muito doido, no meio da festa meu irmão me encontrou, ficou desesperado vendo que eu tava bebendo e já bêbado, me colocou dentro de um táxi e me trouxe, chegando em casa desmaiei, foi foda, mas em seguida fiquei bem. Na semana continuei com o tratamento e fui me cuidando um pouquinho melhor. Era foda ficar sem jogar. 

Chegando o final daquele ano, repeti um exame importante e o médico que não lembro o nome (mas, queria muito lembrar) viu o exame e falou comigo. Ele falou que ia poder voltar aos poucos com as atividades gradativamente e foi assim que fiz. Foi uma das melhores coisas que eu podia ouvir naquele tempo, ainda tentei jogar umas copas colegiais, mas não era mais a mesma coisa. Aos 16 anos, passando mais uns meses do ano seguinte, resolvi parar de tomar os remédios por um tempo e sentindo como eu reagia e realmente parei. Achando pouco, iniciei dois esportes de adrenalina: o MUAY THAI e o SURF, esses dois me ajudaram a superar essa fase. Pra finalizar quero deixar uma mensagem que resume tudo isso: O poder ta na mente!

P.S.1: Pra galera que ficou curiosa e quiser conhecer um pouco sobre arritmia cardíaca, que foi o problema de saúde que me acometeu, a minha no caso, foi uma crise aguda, sugiro que visitem o site da Sociedade Brasileira de Arritmia Cardíaca (SOBRAC), segue link: http://sobrac.org/publico-geral/?page_id=6

P.S.2: Continuo fazendo exames de revisão periodicamente e continua tudo bem, sem sinais de qualquer alteração. O último que fiz foi final de 2015 e nos próximos meses vou repetir.

Um comentário:

  1. Massaaaa!!!! Show de bola e ainda nem começou as resenhas!!! Meu amigo imagino o que vem por aí!

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Desabafo da clareza de todas as coisas

Que loucura mais louca isso tudo que veio à tona, a consciência de saber que preciso ser melhor em quase 90% de todas as coisas e a clareza...